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Frame do filme "O Escaravelho do Diabo"de Carlo Milani |
Recentemente fui ao cinema
assistir “O Escaravelho do Diabo”, suspense baseado no livro de sucesso de
Lúcia Machado de Almeida dirigido por Carlo Milani. Durante as cenas produzidas
para criar uma atmosfera de suspense e tensão os espectadores riam como se
aquilo fosse trabalhado para gerar uma sensação cômica e de descontração.
Isso me levou a questionar se o cinema brasileiro estaria mesmo preparado para
produzir filmes desse gênero, já que sabemos da grande facilidade que temos de
abordar a comédia e o drama.
Em 2014 fizemos uma
crítica ao
filme “Confia em mim”, um suspense dramático que conseguiu carregar o clímax proposto
pelo gênero apenas a partir da metade do filme, seu início é marcado por características
de uma comedia romântica. O filme ficou marcado na época por apresentar ao espectador
nacional a busca dos produtores e diretores brasileiros que trilham novos
caminhos que até em tão são predominantemente dominados pelo cinema internacional.
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Frame do filme "Confia em Mim" de Michel Tikhomiroff |
Atualmente estão sendo produzidos
vários filmes desses gêneros, mas essa tentativa de se aperfeiçoar na pregação
de susto e na condução do horror não é d’agora. Também em 2014 o Brasil deixava
a comédia e o drama um pouco de lado e estreava o "primeiro" filme de terror, “Isolados”,
um longa que conta a história do casal Lauro (Bruno Gagliasso) e Renata
(Regiane Alves) que resolve passar as férias em uma casa isolada na Serra. Daí
uma série de ataques violentos passam a acontecer no local. Eu tive a
oportunidade de assistir esse filme e ao fim fiquei em estado de êxtase e
animação, é um filme que soube abordar o horror muito bem e terminou deixando
qualquer um de boca aberta, além da bela fotografia e iluminação que ele possui e da fantástica
atuação do casal protagonista.
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Frame do filme "Isolados" de Tomás Portella |
Porém antes mesmo dessa estreia,
o cinema nacional já vinha sendo invadido por esses gêneros, em 2012 era
lançado “Quando Eu Era Vivo”, um filme com fantasmas e histórias do passado, um
suspense sobrenatural que de quebra trazia Sandy Leah contracenando e cantando
na trama. 2013 trazia Regina Duarte ao lado de Bárbara Paz em “Gata Velha Ainda
Mia”, um filme de segredos, com crimes, sedução e falsa identidade. Voltando um
pouco mais no tempo, encontramos um suspense entre duas Fernanda Torres, se
trata do filme “Gêmeas” de 1999, que traz a competição de duas gêmeas idênticas que
lutam para conseguir conquistar o mesmo marido e prejudicar a vida alheia.
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Frame do filme "Quando Eu Era Vivo" de Marco Dutra |
Agora em 2016 o cinema nacional
vem sendo ovacionado por conta de vários filmes, entre eles está “O Diabo Mora
Aqui” filme que surpreendeu a todos na Mostra de Tiradentes em Minas Gerais. O
longa gravado no interior de São Paulo traz seu olhar sobre a maldade para o
Brasil, apresentando um thriller pingando a sangue sobre o destino de
dois casais jovens em um casarão colonial. A tensão do longa-metragem dirigido
por Dante Vescio e Rodrigo Gasparini fica por conta da figura
chamada Barão do Mel e um defunto que sai da terra sedento de morte. Ecos do
passado escravocrata brasileiro alimentam a porção fantasmagórica de "O
Diabo Mora Aqui", centrando-se nos rituais para a libertação de um bebê morto ao
nascer e no ódio ancestral de um escravo vítima de humilhações nas mãos do
senhor do casarão. Outro filme que levou o terror e o suspense ao
espectador esse ano é “O Caseiro”, um filme de assombração que traz os clichês
dos filmes do gênero associados a lendas urbanas brasileiras. Como um bicho papão,
uma casa isolada mal-assombrada, a menina que vê fantasmas e o vulto que
acompanha o protagonista nas sombras. O próprio protagonista é um personagem
conhecido, o professor que estuda o sobrenatural e é convidado a investigar o
caso. Esse é o segundo longa de terror dirigido pelo jovem Julio Santi.
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Frame do filme "O Caseiro" de Julio Santi |
O cinema nacional estar preparado
para vários gêneros, mas é preciso controlar o escape cômico nas produções, já
que na maioria das vezes o uso exagerado da comédia na trama pode escrachar
qualquer gênero trabalhado. E também fiscalizar o abandono do real terror e
suspense em busca de um estilo e de uma produção com cara de “filme de arte”.
Eu ousaria dizer que o espectador nacional é quem tem uma certa intolerância ao
gênero de terror e suspense produzidos no Brasil, é notável que ingerimos todo
tipo de filme produzido no cinema internacional, as vezes engolimos a seco
produções que não conseguem sustentar um roteiro ou preencher buracos na
história mas já entramos na sala de cinema em filmes de terror e suspense
nacional com os dois pés atrás, esperando qualquer falha possível para soltar a
velha piada de “ eu falei, produção nacional termina nos risos”. Portanto, é
preciso abrir mão do pré-julgamento e dar uma chance a esses gêneros
cinematográficos que vem ganhando seu lugar ao sol no cinema brasileiro.
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