Os depoimentos compiladas pelo jornalista Daniel Ferro são oriundos do programa de mesmo nome do livro que foi exibido em TV por assinatura, "A ideia do programa “Contos do Rock”, que criei para o Multishow em 2012 (foram 25 episódios no total), que resultou em livro surgiu de uma lacuna que eu percebi que havia nos documentários a que assisti e nas biografias musicais que eu li nos últimos anos." conta Daniel em entrevista ao Bang3.
As histórias vão de grandes artistas de épocas diferente como Erasmo Carlos e Pitty que unem-se a bandas de rock como Vivendo do ócio e Dead Fish. Confiram o bate papo abaixo:
Capa do livro "Contos do Rock". |
Como foi a experiência de reunir todas essas histórias em torno do rock em um livro? Quanto tempo durou todo o processo?
A ideia do programa “Contos do Rock”, que criei para o Multishow em 2012 (foram 25 episódios no total), que resultou em livro surgiu de uma lacuna que eu percebi que havia nos documentários a que assisti e nas biografias musicais que eu li nos últimos anos. Eles não tinham histórias de camarim, de bastidores, que são engraçadas e ajudam a entender muito sobre as bandas, os artistas, e que sempre ficavam à margem. Daí surgiu o programa, que por sua vez tinha uma linguagem audiovisual que emulava um livro, por isso mesmo foi natural essa transição.
Logo na apresentação de Contos do Rock – História dos bastidores do rock brasileiro contadas por quem estava lá você escreve “Era uma época em que a gente não tinha smartphone. Então para passar o tempo a gente conversava”. Essa citação cheia de saudade reflete nos bastidores do rock atualmente?
Do Rock não, mas do mundo da música. Hoje ao entrar em backstages de shows (especialmente de outros estilos) você só ve gente com celular na mão querendo tirar selfie. Não se conversa, não se conecta pessoalmente. É só imagem, virtual. É uma pena.
No Rock ainda tem essa troca, felizmente. Até porque se vc ousar puxar um celular no meio de uma roda de um show de rock, arrisca deixar ele cair porque as pessoas estão pulando e pongando (risos).
Fazer parte do cenário nacional do rock ajudou a entender e explorar esse universo na TV e agora na literatura?
Com certeza. Quando se une paixão pelo que faz, dentro de um universo que você está inserido, as chances daquilo evoluir para algo maior e que dê um resultado positivo é bem maior. O segredo é apenas amar e respeitar a música. As pessoas que pensam igual acabam te recebendo bem por isso.
As histórias de bastidores perpassam por diferentes épocas, como no relato de Erasmo Carlos em que imaginamos como era fazer música durante a ditadura militar. Apesar de bem-humorada essa parte nos mostra esse lado político e de luta pela liberdade que o rock sempre pautou. Na sua vida ele também teve essa característica revolucionária?
Ele formou meu caráter, sem dúvida. Me lembra que precisamos lutar pelo que acreditamos e que vale a pena ter uma voz. Lembro nitidamente de ouvir Nirvana quando eu tinha meus 15 anos e aquilo ser uma revolução dentro de mim. De lá pra cá, nunca mais fui o mesmo.
Você já dirigiu clipes para diversos nomes da música nacional. Qual clipe que você tem aquele carinho especial e diz “é o melhor que já gravei”?
Sempre o último clipe é aquele mais especial né? Porém tem alguns que sempre que eu vou fazer palestras sobre audiovisual as pessoas sempre lembram, caso do "Infinito" da banda Fresno (que soltamos a câmera presa num balão para o espaço).
O clipe de “Porto Alegre” do Fresno foi dirigido por você. Deu super certo, passou demais na TV e marcou muita gente que ficava na frente da MTV. Como foi essa experiência?
Acho que cada clipe ecoa dentro de cada um de maneira diferente. Isso é o bacana do clipe, que não deixar de ser uma obra de arte que você faz em conjunto com o artista que escreveu a música.
Cada clipe eu tento passar uma verdade, algo que eu realmente me relacione. Raramente topo fazer um clipe se eu não acho que vai resultar em algo legal. Por isso me sinto muito afortunado de ter recebido convites de artistas e bandas tão espetaculares para que eu desse essa visão em vídeo de sua obra. Não é porque eu faço isso toda hora que ainda não me surpreenda com o poder dessa união - música e vídeo.
Vimos que tem clipe com a Elza Soares chegando... Como foi trabalhar com uma lenda como Elza? Algum adiantamento sobre o clipe?
Ele saiu recentemente e foi uma grande honra da minha carreira. Lembro sempre de ter acordado (na verdade nem dormi direito na véspera de tanta ansiedade) no dia da filmagem e falado na frente do espelho "hoje é dia de final de Copa do Mundo pra mim". O resultado ficou incrível e trabalhar com a Elza é um marco na minha carreira. Fiquei impressionado com o profissionalismo dela. Topou todas as ideias que sugeri e sempre muito carinhosa com todos da equipe.
Se você fosse chamado para gravar um clipe de uma música da sua banda favorita qual seria essa música e de qual banda seria?
Lounge Act do Nirvana. Só tem um pequeno detalhe que impossibilita isso, né? (risos). Mas nos meus sonhos, é um clipão (risos)
Qual artista ou banda que não participou do “Contos do Rock” e que você gostaria que participasse?
Felizmente, todos os artistas que eu abordei foram super solícitos e abraçaram o projeto. Revendo com calma, apenas O Rappa eu não consegui conciliar as agendas para tê-los no programa ou livro, embora tenha já caído na estrada com eles por algumas vezes. Na época da pesquisa do livro as agendas não coincidiram. Talvez pra uma futura edição? Quem sabe.
Das 54 histórias de bastidores qual é a sua favorita?
Não tenho nenhum conto predileto, mas por uma questão simbólica, o conto do Amin Khader sobre o Queen no Rock in Rio de 1985 é o que vem à mente primeiro porque ele além de ter sido o primeiro que eu gravei e abriu a série no Multishow, acabou (coincidentemente por uma questão de ordem alfabética) sendo o que abre o livro.
O que podemos esperar de Daniel Ferro para o resto desse ano de 2017?
É sempre uma correria louca né? A gente não sabe o que vai fazer amanhã. Vida na estrada é meio assim. Um dia em uma cidade, no outro alguma completamente diferente.
Acho que me acostumei a essa montanha russa diária, então parafraseando o maior roqueiro desse país (como diz a minha amiga e diretora Joana Mazzucchelli sobre o Zeca Pagodinho): "Deixa a vida me levar".
Entrevista por: Lucas Mascarenhas
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