Foto: Gabriel Not |
Muitas, das produções do trio de Porto Alegre, surgem numa mesa, tomando um café, lendo uma poesia. Mistura perfeita não é ?!
E o vocalista, André Neto, conta um pouco para gente sobre o estilo da banda, sobre o novo disco, sobre essa mistura da poesia e da música, e muito mais:
Bang3 - Vocês têm dez anos de carreira, quais as maiores
dificuldades que encontraram no caminho?
André - A maior dificuldade mesmo é não ter recurso
financeiro para produzir as coisas e gravar as músicas como a gente queria.
Entre o que tu precisa fazer e o que tu queres fazer em um disco, fica como
pode. Se tu não tem grana, não tem chance de errar. Tem que tentar e ser o mais
certeiro possível. Depois do disco lançado, não tem como justificar nada, as
pessoas vão achar que ali tu fez o que podia de melhor, então é complexo quando
é assim. Foi muito difícil pra gente sair da Zona Norte de Porto Alegre sem conhecer
nada nem ninguém do centro, sem ter dinheiro. Tu tem que esperar muito, é um
prazo diferente do padrão. E isso não aconteceu só com a Lítera, aconteceu e
acontece ainda com muitos artistas.
Além disso, tem também a dificuldade de mostrar o trabalho,
de se fazer ser conhecido. Ainda que a internet ajude, pulverize, ela também
faz isso com todos os outros conteúdos, então é complicada a competição nessa
chuva de novas informações disponíveis nas redes. É difícil localizar o teu
púbico no meio disso tudo, exige tempo e trabalho. E tu precisa de um emprego
remunerado, que te ocupa horas do dia, pra conseguir dinheiro pra gravar as
tuas coisas, porque tu ainda não tem retorno com a tua arte. Mas pra ter
retorno com a tua arte tu precisa de investimento, tempo e dedicação. É um
paradoxo que, no meio dele, tu precisa ter tranquilidade. Precisa pensar nos
detalhes teu trabalho, pois tu tem que gerar a tua arte e ainda pensar como
comercializar isso pra continuar produzindo ela. É complexo, realmente um paradoxo.
Bang3 - As músicas da banda são repletas da mistura de rock e
poesia, como surgiu a ideia de unir esses dois elementos?
André - Eu estou sempre anotando as coisas. Conversas,
situações, reflexões, conversas alheias. Tenho anotações em papel, no meu
celular, onde der pra anotar na hora. Eu vou acumulando e um dia vão virar
alguma coisa. Isso de unir a poesia, as coisas que eu escrevo, com a música e o
rock, é a parte mais técnica do processo. Sou eu que componho as músicas da
banda, então não sei se é bem uma ideia colocar o que eu escrevo numa música de
rock ou pop, é mais uma necessidade mesmo de fazer a canção.
Bang3- A banda promoveu a ação “Você já viveu um amor impossível?”
De onde surgiu a ideia? Como foi desenvolvido o projeto?
André - Tomando um café por Porto Alegre (pra variar),
lembrei e contei para os guris sobre na Itália, durante um bom tempo, as
pessoas colarem bilhetes na parede para os seus amores. A maioria deles nunca
iria ficar juntos, mas acabaram encontrando essa forma de se falar.
Com a imigração, esse hábito acabou vindo aqui para o Brasil
também. Como as meninas só saíam de casa para ir à missa - e sempre
acompanhadas, pela mãe ou por serviçais -, os meninos deixavam recados escritos
pelas paredes, colados pelo caminho que elas iriam passar. Tinham que ser
mensagens rápidas, para que lessem na passagem, caminhando.
Aí, filosofando sobre o assunto, começamos a falar sobre os
meios de comunicação superinstantâneos que temos hoje, que geram uma ansiedade
de receber uma resposta imediata do outro. A gente começou a falar sobre como é
fácil, atualmente, falar dos nossos sentimentos para outra pessoa, mas que isso
serve apenas para quem tem uma posição social economicamente boa, uma cor que
não seja discriminada e um relacionamento com o gênero contrário do seu. Quem
atende a todos esses requisitos pode namorar, ligar, mandar mensagem, andar de
mão dada, beijar em público - caso contrário, sofre com uma comunicação
limitada como na época lá próxima da renascença. Falando assim até parece que
estamos discutindo sobre uma minoria, mas não é verdade. São muitas as pessoas
que não estão incluídas nesse protocolo de relacionamento.
Começamos a colar então os stickers com a pergunta “você já
viveu um amor impossível?”, que faz as pessoas saírem da zona de conforto, por
que ainda que cumpra todos os “protocolos de relacionamento”, dificilmente
escapou de um romance coibido. Todo mundo já viveu um amor impossível - por
distância, um amor de criança, pelo namorado da amiga, pelo primo ou prima.
Então, ao serem questionadas sobre isso, é um momento (ainda que pequeno e que
não pode ser comparado) em que ela se insere no contexto do outro e sente um
pouquinho da sensação que é amar e, de alguma forma, ser impedida de amar.
A gente sentia essa necessidade de conversar com a rua e
começamos a sentir cada vez mais. Então colocamos uma cadeira no centro de
Porto Alegre, ligamos a câmera e as pessoas vieram espontaneamente contar seus
casos reais de amores impossíveis. Essa ação nos mostrou que temos uma enorme
carência de contato humano, de encostar no outro, de dizer palavras, de
desabafar. As histórias podem ser vistas e ouvidas aqui: www.youtube.com/literarock.
Bang3 - O novo disco foi baseado em cartas de amor, como foi o
processo de criação?
André - Foi muito orgânico, a gente não planejou. Me fascinei
pela história do Dom Pedro I e da Domitila e fui pesquisar. Encontrei com os
livros do Paulo Rezzutti, que me inspiraram ainda mais. Lançamos um single
chamado “Domitila”, mas pensamos que tinha mais a se falar sobre esse
relacionamento, então surgiram o EP1 - O Imperador e o EP2 - A Marquesa.
Depois, com mais quatro novas músicas, gravamos o disco Caso Real. Ainda que
tenhamos pensado ele dessa forma, a gente não tinha um plano. A gente sabia o
que queria no final, mas não sabia como ia fazer isso. Não existiu uma receita.
Bang3 - O que mais mudou na música de vocês desde o primeiro disco
em 2009 até o Caso Real que foi lançado esse ano?
André - A sonoridade. O tema do disco Caso Real é delicado e,
diferente do Um Pouco de Cada Dia, a gente queria que as músicas desse último
disco fossem mais populares, que atingissem um número maior de pessoas.
Pensamos em músicas como Bercy, Bem Feito e até a regravação de Amantes, por
que “tocam na ferida”, são fortes, mas cantadas e tocadas numa sonoridade mais
leve e popular. A gente adora música pop e estávamos empolgados para produzir
um disco assim. Foi uma realização pessoal nossa.
Bang3 - O rock gaúcho vem dominando gradativamente o cenário
nacional. Como vocês veem esse crescimento de perto, já que são de lá e tiveram
essa projeção nacional?
André - Pra nós é difícil falar sobre isso, por que a gente
nasceu numa cidade muito rockeira. Tem muitas bandas aqui, com vários estilos
de música, mas quando a gente sai de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul é que
a gente constata que o nosso estado é muito rockeiro. A gente estando inserido
nisso é difícil ter essa visão. As bandas que estão tendo essa projeção
nacional acham que tem a ver com os novos tempos mesmo. O Humberto Gessinger já
dizia que “estamos longe demais das capitais”, e é verdade, a gente tá aqui na
ponta sul do país. Acabamos criando uma cena local por que estamos longe do
centro, assim como no Pará e outras regiões do outro extremo do Brasil. É um
lance de geografia. Isso de os artistas do Norte e do Sul estarem chegando ao
Centro tem muito a ver com a internet eu acredito, com as pessoas poderem estar
acessando a esses artistas agora. Portais como esse, por exemplo, ajudam muito
nessa globalização da música.
Bang3 - A maneira de se vestir se tornou uma marca registrada da
banda. Tudo isso foi pensado ou é um estilo de vocês que foi trazido pra banda?
André - Foi pensado. A gente não quer só levar um show para
as pessoas, então pensamos em cada detalhe. A gente quer que elas tenham uma
experiência quando forem ver a gente tocar. Queremos que se sintam ambientadas,
climatizadas. Por isso, sempre que temos a possibilidade, colocamos no palco
elementos cenográficos que remetem à época. Os figurinos vêm disso, dessa nossa
proposta de preparar um cenário, um clima, para que as pessoas vivam realmente
uma experiência nos nossos shows.
Acompanhe a Banda Lítera
O vocalista André, deixou um recadinho para gente:
Agradecemos ao André, por nos conceder esse momento, e a Victoria Ragazzi por intermediar a entrevista.
Acompanhem o Bang3 e fiquem ligados, em breve teremos mais entrevistas.
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